O discurso de Rui Costa que foi alvo de contestação pelos sócios do Benfica
A assembleia geral do Sport Lisboa e Benfica teve lugar este sábado no Estádio da Luz , devido a uma grande afluência dos associados. Uma AG marcada pela contestação ao presidente Rui Costa naquele que foi o discurso inaugural. Houve mesmo pedidos de demissão, mas com o presidente a levar o discurso até o fim. Leia o que disse Rui Costa.
“Quero em primeiro lugar destacar e agradecer a participação de todos nesta manhã na Assembleia Geral dedicada aos Estatutos e aos procedimentos a seguir quanto à sua aprovação. É bom ter uma Assembleia ao sábado e envolver todos os adeptos, sobretudo aqueles que chegam de mais longe. Hoje, temos de estar orgulhosos desta enorme participação, mais um sinal de vitalidade associativa do nosso Sport Lisboa e Benfica. Mais uma prova de grande benfiquismo. O meu obrigado a todos!”, iniciou Rui Costa.
“A primeira nota que aqui quero deixar é sobre o orçamento e a estratégia que está por detrás do documento que aqui hoje submetemos à vossa aprovação. É um orçamento ambicioso, que mais uma vez privilegia a vertente desportiva e que pretende apetrechar as nossas equipas das melhores condições para ganharem. Ainda assim, trata-se de um orçamento equilibrado, responsável, que reforça a robusta situação económica e financeira que soubemos construir, fruto apenas do nosso trabalho e da gigantesca Família Benfiquista. E assim queremos continuar”, vincou o Presidente.
“Mas este orçamento é também o reflexo da estratégia que seguimos e do que pretendemos para o futuro do nosso Benfica. Queremos um Benfica cada vez mais vitorioso. E daí esta aposta na vertente desportiva expressa nas linhas fundamentais deste orçamento, cuja componente mais técnica será daqui a pouco detalhada pelo nosso diretor financeiro, Paulo Alves”, explicitou Rui Costa.
“Tenho assistido em silêncio a muitos ataques ao longo das últimas semanas, sobretudo nos últimos dias, mas é aqui diante dos sócios, diante de vós, diante da Família Benfiquista, que quero esclarecer tudo o que está a acontecer no Clube e deixar claro o rumo para o futuro. Podemos discutir política desportiva, podemos criticar e debater a estratégia do Clube, podemos discutir a minha liderança, mas não posso admitir que coloquem em causa a seriedade e o carácter de quem aqui está”, afirmou.
“Fiz questão que todos pudessem ter acesso à auditoria antes desta Assembleia Geral. Fiz questão que todos pudessem, com ano e meio de distância, discutir os novos Estatutos para o Clube. Faço questão que todos os temas aqui sejam discutidos, num sentido democrático e com a transparência que o nosso Benfica nos exige”, realçou o Presidente.
“Relativamente à época desportiva, em duas épocas no futebol em que pudemos planear desde o início, ganhámos uma vez e perdemos outra. Sim, ficámos aquém do queríamos. Sim, foram cometidos erros que já estão identificados e vão certamente ser corrigidos para esta nova temporada. Uma época que considero muito abaixo das nossas expetativas irá permitir-nos na mesma, ao contrário de outros anos, marcar presença na Liga dos Campeões e no Campeonato Mundial de Clubes”, lembrou.
“Ainda na vertente desportiva, no ano passado, contando todas as modalidades de pavilhão e futebol, ganhámos 8 em 12 Campeonatos, ganhámos o dobro daquilo que os nossos adversários ganharam juntos. Nesta época, e ainda que sabendo que a ausência de título de campeão no futebol nos deixa totalmente insatisfeitos, ganhámos 6 em 12 Campeonatos, podemos voltar a ganhar 8 em 12, contando com o hóquei feminino e masculino. Mais uma vez o dobro dos nossos adversários em conjunto e, afinal, parece que no Benfica tudo está mal e tudo precisamos de mudar. Exigência e ambição, sim. Mas não nos podemos autodestruir. Temos também de saber valorizar o que ganhamos. Já chegam todos os que nos querem abater pela nossa grandeza e por ser quem somos”, destacou o Presidente.
“Relativamente às questões da transparência e boas práticas: temos procurado informar os sócios de tudo o que fazemos. A cada mercado justifico cada uma das contratações, o seu racional e o que representa em termos de custos, bem como as vendas de jogadores. Fizemos uma auditoria a todos os contratos que estão na Operação Cartão Vermelho. Todos. Disponibilizámos essas conclusões aos sócios antes desta AG e entregámo-las ao Ministério Público. Vamos fazer uma nova auditoria aos contratos que estão sob investigação das autoridades, e assim será sempre que haja dúvidas por parte da justiça. Mais importante ainda, posso garantir que neste mandato praticamos as melhores práticas de compliance e aplicamos as indicações da FIFA para garantir total transparência”, precisou Rui Costa.
“Relativamente aos FSE [Fornecimentos e Serviços Externos], tenho lido e ouvido muito durante estes dias. Mas vamos ser claros: tem sido um cavalo de batalha desta Direção estancar o crescimento anual dos FSE e garantir total prioridade à componente desportiva. Não há nenhum contrato que não tenha sido revisto e examinado em detalhe ao longo dos últimos três anos. É uma trajetória que está a ser revista e uma batalha que está a ser ganha apesar dos valores de inflação, dos compromissos assumidos e apesar de termos todas as equipas a competir na Europa como nunca tivemos, com todos os respetivos custos que tal representa. Insisto: tem sido das maiores batalhas internas garantir um investimento máximo na componente desportiva, diminuindo tudo o que é acessório. A prioridade máxima é vencer. Não vale a pena fazer disto um tema ou encontrar mártires onde eles não existem. Não contém comigo para aqui lavar roupa suja, não faz parte da história do Benfica, nem faz parte do meu carácter”, sublinhou.
‘Mais um tema que virou arma de arremesso contra esta Direção, quando foi esta Direção que assumiu o compromisso de modernizar o Clube e garantir uma participação abrangente de todos os sócios. Começou por criar uma Comissão, envolvendo várias sensibilidades, tendo cerca de 85% das suas propostas sido introduzidas no documento final da Direção. O documento foi posteriormente submetido à consideração dos sócios, tendo sido incorporadas várias das suas propostas. Nunca no Benfica houve uma discussão tão aberta, tão participada, tão abrangente e tão democrática para a mudança dos estatutos e a modernização do nosso Benfica. Iremos fazê-lo com a participação de todos, sem pressas nem precipitações. Estatutos modernos para entrarem em vigor no próximo mandato, daqui por ano e meio. O que pretendemos é que se aprovem estatutos para um grande Benfica no século XXI e não à medida do Presidente A ou B. E como prometido em campanha eleitoral, com limitação de mandatos”, frisou Rui Costa.
“Quanto aos direitos televisivos, sabemos bem o valor que temos. Acreditamos que nesta altura, e até prova em contrário, valemos mais sozinhos do que integrados numa centralização cujos valores finais e matriz de distribuição está ainda longe de ficar definida. Nesse sentido, estamos a trabalhar para que no período de 2026 a 2028 o Benfica prossiga o seu caminho e volte, uma vez mais, a garantir um valor justo pela dimensão da sua marca e da sua história. Já o disse e reitero: o Benfica não aceita receber menos do que recebe atualmente e não sairá prejudicado com a centralização dos direitos televisivos”, reforçou.
“Caros consócios, não há nenhuma crise de liderança no Benfica. Não há vazios nem ausência de decisão. O Presidente do Benfica está aqui, como sempre esteve, como também está aqui a sua Direção para dar a cara perante todos vós. Assumimos as nossas responsabilidades e temos um projeto para o futuro do Clube. Não viro as costas nem fujo às minhas obrigações. Respondo por mim e pela minha equipa, mesmo por aqueles que decidiram sair. Vamos voltar a vencer no futebol. Vamos continuar a vencer nas modalidades. O Benfica vai permanecer como o clube mais vencedor em Portugal, como tem sido nas duas últimas épocas”, enfatizou o Presidente.”Termino, mostrando-me disponível, como sempre estive, para responder a todas as vossas questões. Como é nosso dever e obrigação, prestaremos todos os esclarecimentos que entenderem. Com elevação, à Benfica. Viva o Sport Lisboa e Benfica!”, rematou.